MATH WARS: origens
por John Saxon
tradução e adaptação não autorizadas pelo autor


O que segue são trechos do artigo NCTM are a bad joke, publicado em fev. 1996, na Education Week, por John Saxon.
O prof. Saxon é autor de uma das mais famosas coleções de livros-texto de matemática para o ensino primário e secundário norte-americano.




.........Eu gostaria de resumir a história recente do NCTM e então perguntar ao leitor se é provável que os líderes dessa organização tinham idéia do que fizeram nos últimos trinta anos e que tem idéia do que estão fazendo. Acho que é a hora de pensar o impensável, qual seja que os líderes dessa organização são ineptos e que devemos pedir prova concreta de sua futuras recomendações antes de pensarmos em implementá-las.

O NCTM tem produzido "modismos para a década" há uma geração e nenhum desses modismos funcionou. Primeiro veio a Matemática Moderna, ou Nova Matemática dos anos 60 e 70, que pediu para as escolar mudara ênfase de temas básicos para o estudo das propriedades dos números reais e outros temas estranhos como o estudo super-enfatizado de sistemas de numeração em bases distintas de 10. Em lugar de dizer aos alunos que os números podem ser somados e multiplicados em qualquer ordem, os alunos tiveram de estudar a comutatividade da adição e da multiplicação nos números reais. Para tornar as coisas bem claras, eles foram ensinados que a + b = b + a e que a.b = b.a para quaisquer números reais a e b. Obviamente o uso de palavras bonitas com pouco significado gerou uma enorme confusão num assunto muito simples. Os alunos foram ensinados a escrever o número vinte e um e o número cinquenta e cinco em base dois, de modo a melhorar seu entendimento do sistema decimal. Os russos tinham recem lançado o Sputnik e havia uma corrida louca para "alcançar os russos". A Guerra Fria estava no auge. De modo que a implementação da Nova Matemática sem testagem preliminar era algo razoável pois não podíamos arriscar de ficar tecnológicamente defasados. O NCTM usou de secções regionais e estaduais para forçar a Nova Matemática nas escolas de todo o país. Os professores objetaram a troca de orientação, mas os professores queriam fazer o que era certo, e assim acabaram aceitando a mudança. Quem não aceitou passou por impatriótico. Os pais ficaram surpresos e alguns alunos reclamaram bastante. Felizmente, muitos professores conseguiram intrometer na Nova Matemática alguns tópicos e conceitos que sabiam serem realmente importantes, de modo que as notas dos alunos não diminuiram bruscamente.

Cerca de 1978, a cúpula do NCTM finalmente atinou que as coisas não iam muito bem, então redigiram um novo conjunto de recomendações baseadas em nenhum teste e que chamaram Agenda para os 80's. A Guerra Fria ainda era uma realidade e então não era considerado demasiado imprudente a adoção dessas idéias sem nenhuma experimentação.

No fim dos 80's a maioria dos antigos professores tinham se aposentado e os novos professores eram o produto da Nova Matemática. O declínio do conhecimento matemático dos alunos tornou-se mais evidente. O NCTM reagiu convocando um novo grupo de especialistas e em 1989 publicou o Standards for School Mathematics. As mesmas pessoas que não tinham tido sucesso em ensinar a matemática do século XX acreditava que sabia exatamente o que devia se fazer para ensinar a matemática do século XXI. Sua concepção era clara. Eles afirmavam que o trabalho com lápis e papel era inerentemente ruim e desnecessário, e que isso não passa de um adestramento disfarçado. Eles odiavam a palavra exercício. Eles tinham como "muito claro" que a ênfase devia ser dada ao uso de calculadoras eletrônicas. Eles achavam que devíamos fazer uso de tudo o que a tecnologia nos proporciona. Eles defendiam que devemos introduzir calculadoras já no primário e que devemos deixar para o aluno decidir se um dado cálculo pode ser feito por estimativas ou por lápis e papel, ou se uma calculadora deve ser usada. A adoção de calculadoras no ensino primário foi intensa. Com consequência, o ensino médio está repleto de alunos que desconhecem os conteúdos mais elementares e que não tem condições nem de atinar se uma resposta de calculadora é razoável ou não.

O desastre é mais evidente em escolas onde é maior a concentração de minorias raciais. Contudo, os líderes do NCTM não querem encarar os fatos. Ao contrário, eles defendem que alunos de minorias podem avançar mais rápido se lhes dermos testes "aguados". Eu cito do Assesment Standards of the NCTM:
Muitas vezes, os testes e exames funcionam como filtros que negam ás minorias o acesso a estudos posteriores de matemática. Atualmente, o desenvolvimento de cada criança de nossa sociedade multicultural deve ser valorizado. Os testes não devem ser usados para negar aos estudantes a oportunidade de aprender matemática importante
Estou intrigado pelo eufemismo "minorias". Acho que eles estão falando em estudantes negros, indios e latino-americanos. A idéia que não podemos ensinar a esses estudantes a mesma matemática que ensinamos aos brancos e aos asiáticos é revoltante. A tarefa do NCTM deve ser achar um meio de conseguir ensinar a mesma matemática a todos os estudantes. Não precisamos mudar os testes. Afinal, todos os alunos irão competir pelos mesmos empregos e serão aprovados para funções em termos de sua capacidade de produzir e não por sua origem racial. Se alunos se saem mal em teste padrões, isso significa que seus professores terão de lhes dar mais atenção. A idéia que os testes são usados para negar aos estudantes o acesso á matemática de importância prática é repugnante.

.......( A verdade é que ) os Standards não aumentaram o número de mulheres ou de estudantes de minorias fazendo disciplinas de matemática pre-universitária na Escola Média. Em verdade, esse aumento nunca ocorrerá sob a orientação dos Standards, pois sua filosofia é equivocada. Se isso já tivesse ocorrido em algum lugar, o NCTM teria gritado aos quatro-ventos a conquista. Muito ao contrário, o que eles estão recomendando só fará aumentar a disparidade entre os dotados e os menos dotados, e tornará a sociedade ainda mais polarizada. As pessoas que escreveram os Standards são pessoas boas e que trabalharam duro na elaboração do documentos. Eles realmente querem ajudar. Eles são quase todos professores de educação que há muito tempo foram removidos das salas de aula.
Eles mesmos dizem que não tem dados para substanciar suas posições. Eles dizem que querem criar uma visão do que é possível. Com efeito, eles usam a palavra "visão" vinte e quatro vezes no primeiro volume dos Standards. Sua descrição de sua visão é o pleno conteúdo dos Standards e é muito nebulosa. ( aguarde a conclusao )




versão: 04-set-1 999
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